Você já pensou que aquela merendinha servida todos os dias na escola pode ser mais importante do que parece? Pois é — não é só sobre matar a fome no intervalo. A merenda escolar tem um papel gigante no aprendizado e no desenvolvimento das crianças. E quando ela é planejada com atenção, equilíbrio e afeto, os resultados vão muito além da sala de aula.
Muita gente não imagina, mas para milhares de alunos, a alimentação escolar é a principal — ou única — refeição nutritiva do dia. Isso mesmo. Em diversas regiões do Brasil, especialmente nas periferias urbanas e nas áreas rurais, a merenda não é um complemento: é uma necessidade. E isso coloca a escola como uma instituição não só de ensino, mas de cuidado.
E tem mais: o que se come afeta diretamente o que se aprende. A falta de nutrientes pode prejudicar a concentração, a memória, o raciocínio lógico e até o comportamento. Criança com fome não presta atenção, não participa e, muitas vezes, nem vai à escola. Já uma alimentação adequada fortalece o corpo, estimula o cérebro e contribui para um ambiente mais saudável — física e emocionalmente.
Neste artigo, vamos entender melhor como a merenda escolar influencia no desempenho cognitivo, na formação de hábitos saudáveis e na inclusão social. Também vamos falar sobre o papel de quem prepara esses alimentos — porque, sim, existe formação profissional para isso. E spoiler: o cuidado começa muito antes do prato chegar à mesa.
O valor nutricional e o preparo técnico da merenda
Não basta apenas oferecer comida — é preciso que ela seja nutritiva, balanceada e adaptada à realidade de quem vai consumi-la. Por isso, o cardápio da merenda escolar precisa seguir critérios definidos por nutricionistas, respeitando as faixas etárias, as necessidades regionais e os hábitos alimentares locais. Parece simples? Nem tanto.
Por trás de uma boa refeição, existe planejamento, conhecimento técnico e responsabilidade. É nesse ponto que entra a importância de ter profissionais qualificados atuando na linha de frente. O técnico em Alimentação Escolar é um exemplo disso: essa formação prepara o profissional para atuar diretamente com o preparo, a higiene, o armazenamento e a execução de cardápios equilibrados dentro das escolas.
Esses profissionais fazem muito mais do que cozinhar. Eles acompanham o valor calórico dos pratos, verificam as condições sanitárias da cozinha, controlam o desperdício e garantem que os alimentos atendam às exigências nutricionais. Um erro na manipulação pode gerar contaminações sérias. Um acerto, por outro lado, pode transformar uma simples refeição em um passo para o sucesso escolar.
O impacto direto da alimentação no desempenho cognitivo
Você já tentou estudar com fome? Ou prestar atenção em algo enquanto seu estômago reclama? Crianças vivem isso com frequência — e os efeitos são visíveis. A falta de alimentos ricos em nutrientes pode comprometer funções cognitivas como atenção, memória e velocidade de raciocínio. Isso afeta diretamente a aprendizagem.
Estudos mostram que alunos bem alimentados têm mais concentração, maior capacidade de resolver problemas e melhor desempenho em testes. Isso porque nutrientes como ferro, zinco, ômega 3 e vitaminas do complexo B são essenciais para o funcionamento do cérebro. A deficiência desses elementos prejudica a cognição — especialmente em crianças em idade de crescimento.
Além disso, a merenda escolar influencia no humor e no comportamento. Crianças que se alimentam mal podem apresentar irritabilidade, apatia ou hiperatividade. Já aquelas que têm uma alimentação balanceada tendem a ser mais participativas, calmas e focadas. Ou seja: um prato bem montado pode significar uma aula bem aproveitada.
Combate à evasão e promoção da frequência escolar
Sim, a merenda escolar também ajuda a manter a criança na escola. Em muitas comunidades, especialmente em contextos de vulnerabilidade social, ela é um incentivo real para a frequência. A certeza de uma refeição quente no dia pode ser o que motiva pais e alunos a manterem a rotina escolar — principalmente em momentos de crise econômica.
Isso é especialmente evidente em períodos de férias ou paralisações, quando muitas famílias relatam aumento nas dificuldades alimentares. A ausência da merenda impacta diretamente o bem-estar das crianças em casa. Em outras palavras, a escola assume um papel de amparo que vai muito além da educação formal.
Além de ajudar a reduzir a evasão, a merenda também cria vínculos. Sentar com os colegas para comer, participar da rotina da cozinha ou até colaborar com a horta escolar fortalece o sentimento de pertencimento. A criança se sente parte do ambiente — e isso contribui, também, para o aprendizado.
Educação alimentar e formação de hábitos saudáveis
A merenda escolar não ensina só com livros. Ela também educa pelo exemplo. Crianças que crescem com acesso a refeições equilibradas tendem a formar hábitos alimentares mais saudáveis — que muitas vezes são levados para casa. A escola vira uma ponte entre a teoria e a prática do que é uma boa alimentação.
Frutas, verduras, grãos, menos açúcar e fritura… tudo isso pode parecer novidade para muitas famílias. Quando a criança experimenta algo novo na escola e gosta, a chance de repetir esse padrão em casa aumenta. Ou seja, o impacto da merenda vai além dos muros da escola — ele ecoa na saúde da comunidade inteira.
Programas de educação alimentar que envolvem os alunos em hortas, oficinas culinárias e rodas de conversa sobre alimentação têm se mostrado eficazes na prevenção da obesidade infantil, da anemia e de outras doenças nutricionais. Aprender a comer bem é um conhecimento tão importante quanto aprender a ler e escrever.
Inclusão e respeito às diversidades alimentares
Outro ponto crucial: a merenda escolar também precisa considerar as especificidades alimentares de cada grupo. Isso inclui restrições por saúde (como intolerância à lactose ou doença celíaca), crenças religiosas, preferências culturais e até hábitos familiares. Um cardápio que respeita essas diferenças promove inclusão de verdade.
Quando a escola ignora essas questões, pode acabar excluindo alunos — ainda que sem querer. Crianças que não podem consumir determinados alimentos acabam se sentindo deslocadas, ou pior: passam fome. Já quando a instituição está preparada para adaptar o cardápio, ela acolhe e valoriza todos igualmente.
Essa sensibilidade depende, novamente, de profissionais capacitados. Saber substituir ingredientes, adaptar receitas, planejar refeições alternativas e manter o equilíbrio nutricional é um desafio que exige preparo. E quanto mais inclusiva for a merenda, mais inclusiva será a escola como um todo.
O papel dos profissionais e da comunidade na alimentação escolar
Por fim, não dá pra esquecer que a merenda não acontece sozinha. Por trás de cada refeição estão merendeiras, nutricionistas, coordenadores, diretores, conselhos escolares e até os próprios alunos. A alimentação escolar é uma construção coletiva — e quando todos participam, o resultado é muito mais potente.
O envolvimento da comunidade, por exemplo, ajuda na fiscalização da qualidade dos alimentos, no combate ao desperdício e até na valorização dos ingredientes locais. Já os profissionais da cozinha escolar têm um papel que vai muito além do fogão: são agentes de saúde, de educação e de cuidado.
Valorizar esses profissionais, garantir sua formação contínua e ouvir suas experiências é essencial para manter um sistema de alimentação escolar forte. Afinal, cada prato servido carrega mais do que comida — carrega afeto, conhecimento, inclusão e a base para um futuro mais saudável.