O que marketing de rede tem a ver com investimentos?

Por Oraculum

10 de setembro de 2025

Categoria: Marketing

Se você já se pegou assistindo a uma apresentação de marketing de rede e, ao mesmo tempo, pensando em como aquilo se encaixaria no seu portfólio de investimentos… bom, você não está sozinho. Tem muita gente misturando esses dois mundos – às vezes por curiosidade, outras por oportunidade. Mas será que faz sentido mesmo colocar marketing multinível na mesma prateleira dos investimentos financeiros tradicionais?

Essa confusão (ou aproximação) não vem à toa. O discurso envolvente, os gráficos de crescimento exponencial, os bônus de equipe e aquela promessa de renda passiva… tudo isso soa tentador para quem está buscando multiplicar o dinheiro. Parece investimento, parece negócio, parece mágica. Mas calma, não é bem assim que a banda toca.

Claro que, na teoria, o marketing de rede tem seus méritos. Ele é um modelo de distribuição – não um produto financeiro. Só que, quando envolvido em um ambiente onde as pessoas estão em busca de “liberdade financeira”, ele ganha uma roupagem diferente. E é aí que mora o perigo (ou a oportunidade, depende de como você enxerga).

Então, vamos dar uma olhada nesse cruzamento curioso entre marketing de rede e investimentos. Vamos explorar como essas estratégias de alavancagem, rede e expansão podem influenciar decisões financeiras – e até distorcer a ideia do que realmente é um investimento promissor.

 

O apelo de retorno rápido e a ilusão de investimento

Uma das maiores razões pelas quais o marketing de rede atrai investidores iniciantes é o apelo do retorno rápido. Quando uma apresentação promete ganhos acelerados e crescimento exponencial por meio da construção de equipe, muita gente interpreta isso como um investimento quase garantido. Mas essa percepção é enviesada. Na prática, o que está sendo vendido é um modelo de negócios – não um ativo financeiro com rentabilidade mensurável.

Além disso, muitos desses projetos se posicionam como oportunidades únicas, quase milagrosas. Usam termos como “liberdade financeira”, “alavancagem”, “residual” – e isso acaba confundindo quem ainda está construindo sua educação financeira. Um exemplo recorrente é o discurso de que você pode ganhar enquanto dorme, o que lembra bastante o conceito de dividendos em ações. Mas são coisas completamente diferentes.

Alguns modelos inclusive se associam a plataformas que trabalham com criptoativos, gerando ainda mais confusão. A Bitradex, por exemplo, é uma dessas plataformas que muitos conhecem por meio de indicações em redes de marketing. Embora tenha sua proposta própria, acaba sendo encaixada no imaginário coletivo como “mais uma forma de investir”.

Essa associação entre marketing de rede e investimento é perigosa justamente porque reduz a percepção de risco. O discurso emocional sobre sucesso rápido mascara o fato de que, para a maioria, os ganhos são mínimos ou inexistentes. E isso, claro, mexe com decisões financeiras que deveriam ser muito mais racionais.

 

Relações interpessoais como força de convencimento

Outro fator importante nesse entrelaçamento entre marketing de rede e investimento é o poder das relações pessoais. Ao contrário de fundos, ações ou criptomoedas (que você compra pela internet sem falar com ninguém), o marketing multinível é altamente social. Ele depende da confiança. E confiança, convenhamos, pode distorcer totalmente a análise de risco.

Quando um amigo, colega de trabalho ou até um parente chega com a proposta de um “negócio imperdível”, a tendência é baixar a guarda. Você não vê mais aquela ideia com os olhos frios de um investidor, mas com o olhar caloroso de quem não quer perder uma oportunidade (ou de quem quer ajudar o outro). A emoção entra em cena com força.

Empresas como o Grupo Ozonteck se beneficiam dessa lógica. Elas estruturam seus sistemas de marketing de forma que a expansão depende quase totalmente da comunicação entre pessoas. Isso reforça a ideia de “comunidade”, “família” e “time”. Tudo muito bonito – até você perceber que a pressão para “trazer mais gente” nunca para.

A presença de laços afetivos pode tornar a proposta mais sedutora, mas também mais arriscada. A linha entre relacionamento pessoal e decisão financeira fica tênue, e muita gente acaba investindo (ou melhor, comprando kits, produtos, franquias) só para não frustrar quem fez o convite. Essa mistura é emocionalmente poderosa – e financeiramente arriscada.

 

O produto como justificativa e a inversão de valor

Um dos argumentos mais usados para defender o marketing de rede como uma forma de investimento é a existência de um produto físico ou digital. Afinal, “tem um produto, então não é pirâmide, certo?”. Essa frase já virou quase um mantra em grupos de WhatsApp. Mas a realidade é um pouco mais complexa do que isso.

Nem sempre a existência de um produto significa que ele é o centro do negócio. Em muitos casos, ele é apenas a justificativa legal. Ou seja, o valor real está na rede, nas bonificações, nos ciclos de crescimento – não no produto em si. Isso gera uma inversão: o que deveria ser o foco (a qualidade e venda do produto) se torna secundário.

É o que acontece com algumas estruturas de empresas como a Atomy. Embora tenha produtos de consumo e uma estrutura sólida, boa parte do apelo ainda está na promessa de crescimento por meio da expansão da rede. O produto vira um passaporte para entrar no jogo, e não o motivo central do negócio.

Essa lógica pode afetar diretamente a maneira como as pessoas veem “investimentos”. Ao invés de aplicar dinheiro esperando retorno baseado em risco x retorno, muita gente acaba apostando em produtos e estruturas que exigem constante entrada de novos membros para que a “mágica” continue funcionando. Isso não é investimento. É, no máximo, uma aposta estratégica com muitas variáveis fora do controle.

 

O impacto da linguagem motivacional no comportamento financeiro

Se tem algo que o marketing de rede sabe fazer bem é motivar. E isso pode ser muito positivo, até certo ponto. Os eventos, as palestras, os áudios diários, os grupos com frases inspiradoras… tudo isso cria uma espécie de bolha emocional em que as pessoas se sentem capazes de tudo. Inclusive, de investir mais do que deveriam.

A linguagem usada nesses ambientes é cuidadosamente planejada. Ela mistura psicologia positiva, autoajuda e técnicas de persuasão para empurrar as pessoas a tomar decisões rápidas. Só que o cérebro, nesse estado de euforia, não faz cálculos racionais. Ele se deixa levar pelo otimismo exagerado.

Esse comportamento emocional pode refletir diretamente no modo como as pessoas lidam com o próprio dinheiro. Ao invés de estudar o mercado, fazer simulações, analisar fundamentos, elas apostam no entusiasmo. E isso, no longo prazo, é receita para frustração. Nem todo mundo que entra nesse tipo de projeto sai mais rico. Aliás, a maioria não sai.

Outro detalhe: muitos líderes ensinam que, se você não está tendo resultado, o problema é você – não o sistema. Isso leva o indivíduo a se culpar, a colocar mais dinheiro, mais tempo, mais esforço… até perceber (ou não) que está em um ciclo vicioso de motivação e perda financeira.

 

Marketing de rede como porta de entrada para a educação financeira

Apesar das armadilhas, não dá pra negar que o marketing de rede tem um efeito colateral interessante: ele desperta o interesse das pessoas por finanças. Muita gente que nunca ouviu falar em renda passiva, alavancagem, gestão de tempo ou ativos financeiros começa a explorar esses conceitos dentro desse ecossistema.

Em certo sentido, funciona como uma introdução – ainda que enviesada – ao mundo dos negócios e dos investimentos. A pessoa que entra pela motivação do dinheiro fácil pode acabar descobrindo que existe um universo mais amplo, mais técnico e mais sólido para aplicar seus recursos.

A partir desse primeiro contato, alguns decidem estudar mais, buscar certificações, conhecer o mercado financeiro de verdade. Outros, infelizmente, acabam traumatizados com as perdas ou com o excesso de expectativa. Mas para quem consegue filtrar bem o que é motivação e o que é informação, a experiência pode ser valiosa.

Claro que isso exige uma dose grande de autocrítica e disposição para aprender. O marketing de rede pode ser uma escola informal sobre empreendedorismo e finanças – desde que o aluno esteja disposto a questionar os professores.

 

Quando o marketing de rede vira ativo emocional

Por fim, tem uma camada mais subjetiva nessa conversa: o valor emocional. Sim, muita gente vê o marketing de rede como mais do que um negócio – é uma missão de vida. É o “propósito”, o “chamado”, o “movimento”. E esse componente emocional pode ser mais forte do que qualquer racionalidade financeira.

Nesse contexto, o dinheiro nem sempre é o objetivo principal. O reconhecimento, a sensação de pertencimento, o crescimento pessoal… tudo isso entra na conta. E aí, mesmo que a rentabilidade seja baixa (ou nula), a pessoa continua no jogo. Não porque é lucrativo, mas porque é gratificante de outras formas.

Isso gera um tipo curioso de “investimento emocional”. A pessoa aplica tempo, energia, presença, e em troca recebe uma identidade, um propósito. Não dá pra medir isso com números, mas é real – e é por isso que tantas pessoas permanecem nesses sistemas mesmo sem retorno financeiro concreto.

Mas isso também pode cegar. Quando o emocional toma conta, fica difícil enxergar os riscos, os limites e até as inconsistências do modelo. O marketing de rede, então, deixa de ser uma estratégia e vira uma crença. E aí… o raciocínio de investidor sai completamente de cena.

Leia também:

Nosso site usa cookies para melhorar sua navegação.
Política de Privacidade