Todo mundo adora falar de tecnologia de ponta e sistemas de defesa cibernética impenetráveis. As grandes empresas adoram ainda mais. Elas estampam em suas apresentações palavras como “segurança total”, “proteção em tempo real” e outros termos chamativos. Mas… será que essa confiança toda tem respaldo? O que exatamente essas companhias estão deixando de contar quando falam de seus sistemas de segurança?
O fato é que testes de invasão — ou pentests — são peças fundamentais nesse quebra-cabeça, mas raramente aparecem nas campanhas de marketing ou nas falas dos executivos. Não é porque não são importantes. Pelo contrário: é justamente porque, quando bem feitos, esses testes mostram tudo o que está errado — e nem sempre as empresas querem tornar isso público. Uma vulnerabilidade exposta pode causar mais pânico do que transparência.
Agora, aqui vai uma pergunta desconfortável: quem fiscaliza os sistemas das gigantes da tecnologia? Quem garante que as auditorias de segurança não são apenas burocráticas? O mercado de cibersegurança é cheio de siglas — SOC, MDR, XDR — e nem sempre essas siglas se traduzem em ações concretas. Muitas vezes, são apenas camadas de verniz técnico em cima de sistemas frágeis e mal documentados.
Mas antes de apontar dedos ou assumir que está tudo perdido, vale entender como essas estruturas funcionam de verdade. Porque, sim, existem soluções bem planejadas, times competentes e estratégias avançadas por trás de grandes operações de segurança. Só que nem tudo é divulgado… e é aí que o buraco começa a ficar mais fundo. Vamos por partes?
Os bastidores silenciosos dos testes de invasão
Testes de invasão são como simulações de guerra digital. Um time autorizado, geralmente externo, tenta invadir o sistema de uma empresa — exatamente como um hacker faria — para descobrir por onde ele pode entrar. Parece simples? Pois é. Mas o que pouca gente sabe é que a maioria das grandes empresas evita falar sobre os resultados desses testes.
A razão é simples: os pentests geralmente revelam vulnerabilidades críticas, algumas que existem há anos. Não pega bem dizer isso para o mercado, para os acionistas, para os clientes. E aqui entra um dos pontos-chave: o SOC (Security Operations Center), que deveria agir imediatamente ao detectar algo suspeito, muitas vezes só reage quando o teste já foi longe demais.
Outro detalhe importante: nem sempre o time que faz o teste tem total autonomia. Às vezes, há limites impostos pela própria empresa, que “orienta” onde pode ou não ser testado. Um pouco contraditório, certo? Afinal, se há algo a esconder, é porque existe uma falha que deveria ser corrigida, e não acobertada.
Camadas de proteção… ou de ilusão?
Vamos falar de MSS — Managed Security Services. Na teoria, essa estrutura funciona como um reforço de segurança para empresas que não têm um time interno robusto. Na prática, muitas empresas usam o MSS como escudo reputacional. Ou seja, contratam o serviço para dizer que estão protegidas, mas nem sempre seguem as recomendações recebidas.
O problema aqui é que a terceirização pode dar uma falsa sensação de segurança. “Ah, temos um MSS cuidando de tudo!” — mas será que está mesmo? Há casos (mais comuns do que se imagina) em que alertas críticos foram ignorados ou passaram despercebidos por semanas. Isso porque muitos desses serviços operam de forma genérica, sem personalizar a segurança conforme os riscos específicos de cada cliente.
E tem mais: durante um pentest, a existência de um MSS não garante que o sistema esteja pronto para se defender. Muitas vezes, o teste expõe lacunas justamente na integração entre os serviços contratados e a infraestrutura interna da empresa. Ou seja, um castelo bonito por fora, mas vazio por dentro.
Quando o monitoramento é só fachada
Você já ouviu falar de um Security Operation Center 24/7 que, na prática, não monitora nada além do horário comercial? Sim, isso acontece. Um SOC de verdade precisa ser ativo o tempo todo, analisando logs, padrões de tráfego e comportamentos estranhos. Mas muitas empresas mantêm o centro apenas como peça de marketing.
O grande desafio é a profundidade da análise. Monitorar não é só receber alertas — é entender o contexto, conectar eventos e prever movimentos. E para isso, precisa de gente capacitada, processos bem definidos e tecnologia de ponta. Tudo isso custa caro. Então, o que algumas empresas fazem? Cortam caminhos.
O resultado é que, durante um teste de invasão, o SOC simplesmente não responde como deveria. O time responsável pelo pentest pode explorar brechas por horas — às vezes dias — sem ser detectado. A questão aqui não é a ausência de ferramentas, mas a ausência de prática e de resposta ágil. Monitorar sem agir é só observar o incêndio de camarote.
A promessa nem sempre cumpre
O Managed Detection and Response, conhecido como MDR, ganhou fama por oferecer algo que vai além do alerta: a resposta. Na teoria, ele promete identificar e reagir automaticamente a qualquer ameaça. Parece o paraíso da segurança, certo? Só que, na prática, muitas implementações falham justamente na parte mais crítica — a resposta.
Empresas que adotam MDR muitas vezes esquecem que o serviço precisa de um nível mínimo de maturidade da própria infraestrutura. Se os sistemas não estiverem bem configurados, se os dados não estiverem sendo bem coletados, o MDR trabalha com visão turva. É como pedir para alguém apagar um incêndio… sem saber onde o fogo começou.
Durante os pentests, fica evidente que o MDR detecta uma movimentação incomum, mas hesita em agir. Por quê? Porque a ação pode causar instabilidade ou porque depende de aprovação humana. Ou seja, o tempo de resposta — que deveria ser o diferencial — acaba se tornando o calcanhar de Aquiles.
Segurança encenada
É curioso ver como o Centro de Operações de Cibersegurança de muitas empresas parece mais um centro de eventos do que um posto de combate. Cheio de telas, dashboards coloridos, gente uniformizada… mas, quando testado de verdade, o sistema colapsa com um ataque básico.
Essa teatralidade pode até impressionar investidores, mas não engana os especialistas. Um centro de operações precisa ser orientado por processos claros, métricas de desempenho, simulações frequentes. E isso não se vê com tanta frequência quanto se deveria. A verdade é que o show é bonito, mas os bastidores são caóticos.
Em um cenário ideal, o centro deveria trabalhar lado a lado com os times de TI e segurança, validando os alertas, organizando a resposta, melhorando os controles. Mas em muitos casos, ele existe apenas no papel — ou, pior, como vitrine institucional. Nos testes de invasão, essa diferença fica escancarada.
Testes que assustam mais do que invasões reais
Tem algo quase irônico nisso tudo: os testes de invasão muitas vezes causam mais pânico nas empresas do que ataques reais. Sabe por quê? Porque eles revelam que o sistema está nu — e não tem para onde correr. Com ataques reais, sempre há a desculpa do imprevisível. Com um teste, não há álibi: o ataque foi anunciado, autorizado e, mesmo assim, passou.
Além disso, os testes também colocam em cheque a eficiência dos processos internos. Quem responde? Quanto tempo demora? Onde estão os gargalos? São perguntas que, no dia a dia, ninguém faz — mas que, sob pressão, cobram respostas imediatas. O desconforto é inevitável.
E tem outro ponto importante: o ego. Muitos times de segurança acreditam estar prontos. Confiam nas ferramentas, nas rotinas, no que aprenderam nos cursos. Aí vem o pentest… e desmonta tudo. É um choque de realidade que nem todo mundo digere bem — mas é justamente esse impacto que pode gerar mudanças reais.