As doenças inflamatórias intestinais (DIIs), como a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, são frequentemente cercadas por desinformação. Mitos sobre causas, tratamentos e prognósticos podem dificultar o entendimento e o manejo dessas condições, tanto para os pacientes quanto para seus familiares. Mas afinal, o que é verdade e o que é exagero?
Com o aumento dos diagnósticos de DIIs, é mais importante do que nunca separar os fatos das ficções. Informações equivocadas podem levar a decisões prejudiciais, como a negligência no tratamento ou a adoção de práticas que não têm respaldo científico. Além disso, os mitos contribuem para o estigma e dificultam o diálogo sobre essas condições.
É essencial desmistificar essas crenças para ajudar pacientes a se sentirem mais seguros e informados sobre sua condição. Isso inclui esclarecer pontos como dieta, tratamentos e procedimentos cirúrgicos, bem como destacar a importância de um acompanhamento médico adequado.
Neste artigo, exploramos os mitos mais comuns sobre doenças inflamatórias e apresentamos informações baseadas em evidências para desmenti-los.
A retocolite é causada por má alimentação
Um dos mitos mais comuns é que a retocolite — uma das formas mais conhecidas de DII — é causada por uma dieta inadequada. Embora a alimentação possa influenciar os sintomas e o bem-estar geral do paciente, ela não é a causa da condição.
Retocolite ulcerativa é uma doença autoimune, o que significa que o sistema imunológico ataca erroneamente os tecidos saudáveis do cólon. Fatores como predisposição genética e elementos ambientais desempenham papéis muito mais importantes na origem da doença do que a dieta.
Isso não significa que a alimentação não tenha impacto. Certos alimentos podem desencadear ou piorar os sintomas, mas é essencial lembrar que eles não são responsáveis pelo desenvolvimento da condição.
Cirurgia para retocolite é inevitável
Muitas pessoas acreditam que pacientes com retocolite ulcerativa eventualmente precisarão de uma cirurgia para retocolite. Embora alguns casos realmente exijam intervenção cirúrgica, como a retirada do cólon, essa não é a realidade para todos os pacientes.
O avanço nos tratamentos médicos, incluindo medicamentos biológicos e imunossupressores, tem ajudado muitos pacientes a controlar a inflamação sem a necessidade de cirurgia. A decisão cirúrgica depende de fatores como a gravidade da doença, a resposta ao tratamento e a presença de complicações, como perfuração do intestino ou risco de câncer.
Portanto, é importante que os pacientes saibam que a cirurgia é apenas uma das opções de tratamento e, em muitos casos, pode ser evitada com o manejo adequado da doença.
Apenas um médico que cuida de colite pode tratar DIIs
Outro mito recorrente é que apenas um médico que cuida de colite (geralmente gastroenterologistas) pode tratar doenças inflamatórias intestinais. Embora esses especialistas sejam os principais responsáveis pelo diagnóstico e manejo clínico da condição, o tratamento de DIIs muitas vezes exige uma abordagem multidisciplinar.
Nutricionistas, psicólogos, cirurgiões e reumatologistas podem desempenhar papéis essenciais no cuidado de pacientes com DIIs. Isso ocorre porque essas condições podem afetar diferentes aspectos da saúde, incluindo deficiências nutricionais, impacto emocional e dores articulares.
Ter uma equipe de profissionais trabalhando em conjunto pode melhorar significativamente a qualidade de vida do paciente, tornando o tratamento mais abrangente e eficaz.
Colonoscopia é sempre o primeiro exame indicado
Embora a indicação de colonoscopia seja comum no diagnóstico e monitoramento de DIIs, muitas pessoas acreditam que ela é sempre o primeiro exame solicitado. Na verdade, o diagnóstico pode começar com exames menos invasivos, como exames de sangue, fezes e imagem, dependendo dos sintomas do paciente.
A colonoscopia, entretanto, é considerada o padrão-ouro para confirmar o diagnóstico, pois permite visualizar diretamente o intestino e realizar biópsias. É um exame essencial, mas não é necessariamente o primeiro passo em todos os casos.
Para pacientes com suspeita de DII, o médico avaliará os sintomas e o histórico do paciente antes de decidir quais exames são mais indicados. A colonoscopia costuma ser reservada para casos onde há necessidade de maior precisão diagnóstica.
DIIs têm cura com dieta ou suplementos
Uma ideia equivocada, mas muito difundida, é que dietas específicas ou suplementos podem curar as DIIs. Apesar de ajudarem no controle dos sintomas e no bem-estar geral, essas estratégias não curam condições como a retocolite ulcerativa ou a doença de Crohn.
DIIs são doenças crônicas, e o foco do tratamento é alcançar e manter a remissão dos sintomas. Isso pode envolver medicamentos, mudanças na dieta e suporte psicológico, mas não há evidências científicas que comprovem a cura por meio de dietas ou suplementos isoladamente.
É essencial que os pacientes evitem tratamentos milagrosos ou não comprovados e sigam as orientações de seus médicos para garantir um manejo seguro e eficaz da doença.
Conclusão
Os mitos sobre doenças inflamatórias intestinais podem dificultar o diagnóstico e o tratamento, além de gerar estresse desnecessário para os pacientes. Desmistificar essas crenças é fundamental para que as pessoas entendam melhor sua condição e busquem ajuda apropriada.
Na minha opinião, o combate à desinformação começa com a educação. Quanto mais os pacientes e seus familiares souberem sobre as DIIs, maior será sua capacidade de tomar decisões conscientes e eficazes para melhorar sua qualidade de vida.
Por fim, acredito que um diálogo aberto com profissionais de saúde é a melhor maneira de esclarecer dúvidas e derrubar mitos. A informação correta é uma aliada poderosa no enfrentamento dessas condições crônicas e desafiadoras.