O tribunal é, sem dúvida, um dos espaços mais intimidantes para quem não está acostumado com a dinâmica jurídica. Há rituais, protocolos e uma linguagem quase própria que muitas vezes confunde até quem já passou por ali mais de uma vez. E é exatamente nesse cenário — tenso, técnico e decisivo — que o advogado criminalista assume um papel fundamental. Não é apenas uma figura técnica, mas sim um pilar essencial da justiça.
Muita gente ainda associa o advogado criminalista à defesa de pessoas “culpadas”, como se o direito à defesa fosse algo negociável. Mas isso não poderia estar mais longe da realidade. Ele é, na prática, o guardião dos direitos do acusado, aquele que garante que o processo siga os trilhos legais. Não se trata de defender o crime, mas sim de garantir que a lei seja respeitada — para todos, sem exceção.
Aliás, já parou para pensar como seria um julgamento sem um advogado criminalista? Um desequilíbrio total. De um lado, o aparato do Estado com toda sua estrutura; do outro, um cidadão comum. Sem defesa, é como colocar um time profissional contra um amador e esperar um jogo justo. É aqui que o papel do criminalista deixa de ser técnico e se torna, também, profundamente humano.
Mas o que exatamente esse profissional faz dentro de um tribunal? Como ele atua na prática? Por que sua presença muda tudo — da postura do juiz à condução das provas? Vamos olhar com mais atenção para esse personagem que, muitas vezes, só recebe atenção quando o problema já está batendo à porta.
A leitura estratégica do processo
Em primeiro lugar, o advogado criminalista não é apenas alguém que “fala bonito” no tribunal. Sua função começa muito antes da audiência. Ele precisa interpretar o processo de forma estratégica, identificar erros formais, contradições nas provas e lacunas que podem ser decisivas. É como montar um quebra-cabeça — mas com peças faltando e o tempo contra você.
Essa leitura estratégica exige muito mais do que conhecimento técnico. Envolve experiência, intuição e uma boa dose de frieza emocional. Afinal, o advogado está lidando com a liberdade — ou a perda dela — de alguém. Uma vírgula mal interpretada ou um argumento fraco podem custar caro. Não é exagero dizer que, muitas vezes, ele enxerga detalhes que passam despercebidos até pelos juízes.
Outro ponto importante: essa leitura não é estática. Ao longo do processo, novas informações surgem, novas provas aparecem e a estratégia precisa mudar. O criminalista não pode se apegar a uma única tese. Ele precisa ser flexível, adaptável — e isso exige uma habilidade rara de pensar sob pressão.
A importância da ética e da reputação
Quando falamos de atuação no tribunal, é impossível ignorar a importância da ética profissional. Um advogado pode até ter o melhor discurso e dominar a técnica jurídica, mas se sua reputação for duvidosa, isso respinga diretamente no cliente. Em especial em casos delicados ou de repercussão, a imagem do defensor pode influenciar a percepção do próprio processo.
É aí que entra a relevância da defesa em processos no Tribunal de Ética da OAB. Advogados que enfrentam esse tipo de procedimento precisam ter extremo cuidado com sua conduta — e mais ainda quando estão em sala de audiência. Um deslize ético pode comprometer não apenas sua carreira, mas também o direito de defesa de quem representa.
Isso mostra como a atuação do criminalista vai além do conhecimento jurídico. Ele precisa manter um comportamento irrepreensível, tanto diante do juiz quanto fora dos autos. É uma questão de confiança: o juiz precisa acreditar na lisura do profissional, os colegas também. É uma rede sutil de relações que começa com a ética e termina, muitas vezes, no resultado do julgamento.
O peso da atuação na audiência de custódia
Uma das atuações mais críticas do advogado criminalista ocorre logo no início do processo penal: a audiência de custódia. É ali, muitas vezes, que se define se o réu vai responder preso ou em liberdade. E essa decisão pode mudar completamente o rumo da vida do acusado — e do processo.
Na audiência de custódia, o tempo é curto e a tensão é alta. O advogado precisa agir rápido, identificar abusos, argumentar com firmeza e, ao mesmo tempo, transmitir serenidade. Não há espaço para hesitação. Cada palavra importa, cada silêncio também. A ausência de um defensor bem preparado nesse momento pode significar semanas — ou meses — de prisão desnecessária.
Além disso, é nessa audiência que o juiz tem o primeiro contato com o acusado. A imagem que ele formar ali pode influenciar decisões futuras. Um bom advogado sabe disso e prepara o cliente não só juridicamente, mas também emocionalmente. É um trabalho quase psicológico, mas absolutamente essencial.
A defesa nos crimes contra a honra
Os crimes contra honra, como calúnia, difamação e injúria, talvez não pareçam tão graves à primeira vista. Mas, em tribunal, podem ganhar uma proporção enorme — especialmente quando envolvem figuras públicas, disputas familiares ou ambientes profissionais. E é aí que o papel do advogado criminalista se revela ainda mais sutil e complexo.
Esses casos exigem uma argumentação mais fina, quase cirúrgica. Não se trata apenas de provar um fato ou refutar uma acusação, mas de construir uma narrativa que convença o juiz de que houve — ou não houve — intenção de ofender. Muitas vezes, tudo gira em torno de uma frase dita fora de contexto, de uma postagem ambígua ou de um áudio compartilhado.
O advogado precisa ser quase um linguista, analisando palavras, entonações, significados e interpretações possíveis. E mais: precisa transformar tudo isso em uma argumentação jurídica sólida, que convença tecnicamente sem deixar de lado o apelo emocional. É uma dança entre razão e sentimento — e nem todo mundo sabe dançar assim.
Quando a atuação é no cenário carioca
Atuar na advocacia criminal Rio de Janeiro tem suas particularidades. A cidade, com seus contrastes e dinâmicas únicas, apresenta um cenário jurídico que desafia até os profissionais mais experientes. O criminalista que trabalha ali precisa estar preparado para tudo: desde casos de grande repercussão na mídia até conflitos locais com forte carga emocional.
No Rio, a relação entre os atores jurídicos — promotores, juízes, defensores — pode ser mais intensa, às vezes até pessoal. O advogado precisa saber se posicionar com firmeza sem criar atritos desnecessários. É um jogo de cintura que nem sempre se aprende nos livros. Tem que estar no sangue — ou ser adquirido com muita prática de campo.
Além disso, o contexto de violência urbana, desigualdade social e corrupção institucionalizada afeta diretamente os processos criminais. O advogado que atua ali precisa entender essa realidade para conseguir formular estratégias eficazes. Não basta conhecer a lei — é preciso conhecer o território, as histórias por trás dos processos, e até os códigos não ditos de cada fórum.
O poder do discurso no momento certo
Por fim, há uma habilidade que distingue os grandes criminalistas: o poder de falar no momento certo. Não é sobre usar palavras difíceis ou fazer discursos longos. É sobre saber quando calar, quando interromper, quando levantar uma objeção ou quando simplesmente deixar o silêncio causar o impacto necessário.
Em tribunal, o tempo é uma moeda rara. E o bom advogado sabe usar cada segundo com precisão. Ele prepara o discurso, claro, mas também se adapta ao que acontece na hora. Às vezes, um detalhe dito pela acusação muda tudo. E o advogado precisa reagir — rápido, com precisão, e sem perder a compostura.
Essa habilidade não é só talento. É treino, observação e uma boa dose de intuição. E, mais importante, é saber que cada palavra pode pesar na decisão final. O criminalista que domina o discurso domina o processo — ou, pelo menos, equilibra o jogo para que a justiça tenha uma chance real de acontecer.